A forma como a grávida se alimenta marca o desenvolvimento genético do bebé e pode ser determinante para o proteger de várias doenças graves até à idade adulta.
A alimentação foi uma das minhas grandes preocupações, logo que descobri que estava grávida. A qualidade e a quantidade dos alimentos começaram a ditar o tom das minhas refeições, e logo eu, que até então pouco ou nada me preocupava com o que comia. Tudo fiz em favor do desenvolvimento e da saúde do bebé que aí vinha.
Segui, inclusive uma dieta sugerida pelo meu obstetra. Ele deu-lhe o nome de “Dieta das 1800 kcal”. Digo sugerida porque não fui obrigada a fazê-la. Sempre aumentei de peso dentro dos limites pré estabelecidos, não tinha nenhuma condicionante a nível de saúde, nem física. A primeira preocupação era a saúde do bebé e com isso, manter sempre o peso dentro dos limites ditos “normais”.
Embora fosse raro beber álcool, eliminei-o totalmente da minha alimentação, assim como, todos os químicos (chá em bolsas individuais de papel, adoçante, etc.) e os excessos de todo o tipo (doces, fruta – estes foram a minha maior dificuldade, principalmente moderar a ingestão de fruta, e logo eu, que se pudesse só comia fruta…). Picantes, pimentas e alimentos que induziam flatulência também foram eliminados.
Beber água, muita água. Eu não era pessoa de beber muita água. Se bebesse 0,5l de água por dia já era um feito heróico, mas com a gravidez tive de me empenhar. O truque foi comprar uma garrafa de 1,5l de água e andar com ela sempre atrás. O objectivo era beber pelo menos 1,5l de água por dia. Como estava sempre à minha frente ia bebendo sempre aos poucos ao longo do dia e nem me apercebia da quantidade.
A ideia de que uma dieta equilibrada durante a gestação ajuda a que os nove meses possam decorrer mais saudáveis para mãe e bebé é consensual e posso comprovar.
Outro dia li um artigo, precisamente sobre a alimentação da grávida, na Revista Pais & Filhos e achei excelente, por isso irei colocar um excerto do mesmo para que possam compreender a importância deste período de vida fetal para toda a restante vida do bebé.
Excerto de artigo Revista Pais & Filhos”
“Sabia que estes 280 dias são uma janela de oportunidade imperdível para garantir mais saúde ao seu filho, desde a infância até à idade adulta? “A chamada nutrição fetal é onde tudo começa”, garante a pediatra Rute Neves, do Hospital de D. Estefânia, em Lisboa. “No período que vai da conceção ao parto – e que prossegue nos primeiros dois anos de vida da criança –, por efeito dos aportes nutricionais, dão-se desenvolvimentos na nossa estrutura e expressão genética que terão efeitos durante toda a vida. Se esses efeitos serão positivos ou negativos, dependerá da forma como a mãe agir durante esta fase”, adianta a mesma especialista.
Muito mais do que comer de forma equilibrada e saudável como um princípio sem metas bem definidas, Rute Neves refere estudos internacionais para garantir que a gravidez “é uma altura primordial para o desenvolvimento, no bebé, de fatores de risco ou de fatores protetores de algumas patologias crónicas não transmissíveis”. São os casos “das doenças cardiovasculares, da diabetes, da obesidade, da doença respiratória crónica” e também de outras situações como “as doenças mentais e até algumas neoplasias”.
Hardware e software
A pediatra reconhece que os mecanismos biológicos que envolvem a alimentação na gravidez e a saúde do filho não são fáceis de explicar. Assim, socorre-se de um exemplo tecnológico: “imaginemo-nos como um computador. Os nossos genes são o hardware, mas a forma como os utilizamos é o software. E, durante a gravidez, através da nutrição, podemos alterar esse mesmo software, que vai alterar a forma como os nossos genes funcionam desde a conceção e vão funcionar ao longo de toda a vida. É como se programássemos o computador do nosso filho para sempre”.
Uma programação, acrescenta por sua vez a dietista Mónica Grós Dias, que deve começar antes mesmo de a gravidez acontecer. “Uma mulher que pense ficar grávida deve assegura-se que tem um peso adequado à sua altura e à sua idade e ainda que a sua composição corporal está equilibrada, sem défices e sem excessos de massa gorda, que nem sempre são detetáveis através de uma observação externa”. Até porque é consensual que quanto mais composição gorda tiver o organismo feminino, maiores são as possibilidades de haver dificuldades na conceção.
Em termos práticos, o verdadeiro “seguro de saúde” que pode ser subscrito à mesa durante os nove meses é resumido por Mónica Grós Dias. “Todas as grávidas têm necessidades energéticas acrescidas e se numa mulher não grávida a média de ingestão diária é da ordem das 1800 calorias, durante a gestação poderemos ter de ir até às 2500 calorias”. Para a responsável pela consulta de nutrição de grávidas do Hospital de D. Estefânia, o importante é apostar “no maior aporte de proteínas, que são nutrientes importantes para o crescimento intrauterino do bebé, nomeadamente os chamados micronutrientes: cálcio, selénio, zinco e vitaminas, com destaque para a D e a B12 (ácido fólico).
E como encontrar todos estes nutrientes? “Fazendo uma dieta variada e equilibrada, onde todos os grupos alimentares estejam presentes, assim como a ingestão de água nas doses indicadas. Nos casos em que a alimentação respeite estes princípios, a dietista não defende o uso de suplementos alimentares, com exceção do ferro e do ácido fólico. Tudo o mais “desde que seja usado em natureza, ou seja, sem grandes processamentos industriais, é absorvido muito eficazmente pela grávida e pelo seu bebé”.
Importância inicial
A conhecida “Roda dos Alimentos” é um bom ponto de partida para programar uma dieta equilibrada e a gravidez não é exceção. Mas visualizar uma pirâmide para usar durante os 280 dias também é uma ferramenta eficaz. Na base, os hidratos de carbono – que correspondem a 60 por cento do total diário – seguindo-se as proteínas de origem vegetal e animal, o cálcio e, no vértice, o ácido fólico e o ferro. Outro bom princípio é o de não fazer restrições das chamadas ‘gorduras boas’, ou insaturadas. Por outro lado, refere Mónica Grós Dias, há muito que se abandonou a ideia de que é necessário evitar alimentos que estejam relacionados com eventuais doenças alérgicas que venham a afetar o bebé. “Não existem quaisquer estudos que provem essa relação causa-efeito, mesmo quando a mãe tem fundo atópico ou é mesmo alérgica. Claro que não vai ingerir os alimentos a que o seu organismo reage, mas não há razão nenhuma para se privar de outros que não a afetam, com receio de que o seu filho venha a sofrer consequências”.
“É importante que a grávida, ou a mulher que pense em ter filhos, tenha boas indicações nutricionais já que está provado que os primeiros dias após a conceção são talvez dos mais importantes da programação genética a longo prazo que se pretende implantar”, revela Rute Neves, adiantando que “neste pequeno intervalo, durante o qual a maior parte das mulheres nem sabe que está à espera de bebé, têm lugar acontecimentos importantíssimos a nível celular e genético”.
Mas nunca é tarde para voltar ao bom caminho. “Mesmo que antes tenham acontecido desvios nutricionais, o tempo que decorre até ao nascimento é ideal para iniciar hábitos saudáveis, com ganhos para a mulher mas, especialmente, para o seu filho”. É na gravidez que arranca “a transcrição genética e a formação de órgãos do bebé, determinada pela nutrição que lhe chega pela placenta”. Para além da maior resistência às já referidas doenças crónicas não transmissíveis – a que a pediatra prefere chamar de epidemias do nosso tempo – Rute Neves indica também como ganhos de uma dieta cuidada na gravidez “a otimização do desenvolvimento cognitivo da criança e a criação de alguns filtros contra doenças mentais que podem surgir na idade adulta, como é o caso, por exemplo, da esquizofrenia ou alterações da personalidade.”
Hoje, morrem todos os anos 36 milhões de pessoas em todo o mundo, vítimas de doenças crónicas não-hereditárias, metade delas doenças cardiovasculares. Quebrar este ciclo é possível se for dada a atenção devida no momento certo: quando as novas gerações estão nas barrigas das mães”, conclui Rute Neves.”
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